Tatuei meu corpo e não o meu caráter...


Se você parar para pensar, fazer uma tatuagem e terminar um namoro indesejado são coisas bem parecidas. Ambos os processos são dolorosos, mas se você tiver certeza daquilo que quer, o resultado irá te agradar bastante e tudo terá valido a pena. Sem falar que você sempre terá algo para lembrá-lo de sua decisão: sua tatuagem e seu ex. Infelizmente, assim como as tatuagens, os ex-namorados são para sempre e é uma pena que não exista nenhuma cirurgia a laser que os remova de sua vida. Mas, fazer o quê? C'est la vie.


Bom, mas sim, fiz uma tatuagem e estou feliz com ela, apesar de dizerem que ela parece tatuagem de Doritos. Não ligo. Gosto muito desse símbolo e acho o significado dele muito interessante, adoro os celtas. Até aguentei uma bronca da minha ex-chefe me dizendo o quanto eu sou idiota por marcar meu corpo com algo indelével e o quanto eu iria me arrepender. Quem sabe um dia eu me arrependa? Mas sinceramente, eu teria me arrependido muito mais se tivesse deixado de fazer uma coisa que eu queria muito, e sobre a qual eu tinha refletido bastante, por medo de estar tomando a decisão errada (e isso também se aplica a fins de namoro, vale salientar). Enxeram tanto a minha cabeça de absurdos, que no dia em que fui fazer a minha tatuagem eu estava tão nervosa por possivelmente estar arruinando minha vida para sempre, me tornando uma desempregada crônica e marginalizada socialmente, que mal consegui aproveitar o momento. Bem, quer saber? Quando terminou, eu olhei para ela e pensei "ainda bem que eu tive coragem". Sinceramente, não há nada demais em fazer uma tatuagem, se esta for uma decisão bem ponderada. Ela não irá alterar o seu caráter, nem fazer você ser mais hippie, menos responsável, mais sujo, menos capaz de trabalhar, nem nenhuma dessas idiotices. Sim, minha tatuagem é pequena e até agora não me causou nenhum problema, mas... Mas... Mas... Esse preconceito todo que as pessoas tem com quem se tatua ou coloca piercings me incomoda bastante. E não é só porque eu tenho os dois. Não mesmo. Já me incomodava antes.


Tem gente que tem medo de pessoas tatuadas, pois eu tenho medo é de um dia vir a ser como uma dondoca cabeça oca que chegou para mim um dia e disse, com carinha de nojo, depois de dar uma boa olhada na quantidade de brincos que eu carrego nas orelhas: Hehe... Ehr... Isso não dói, não? Bem, de qualquer forma, ainda bem que você não é morena...


Eu sei que eu sou mais branca do que uma folha de ofício, mas quero saber qual seria o problema se eu fosse morena. Eu iria parecer o quê? Uma maloqueira? Favelada? Foi isso que ela quis dizer? Só porque eu tenho muitos brincos? Quer dizer que uma pessoa "morena" não pode ter muitos brincos? Essa senhora foi preconceituosa em vários níveis que meu intelecto não consegue alcançar.

Eu acho engraçado, hoje em dia se adora falar em preconceito: preconceito étnico, preconceito religioso, preconceito entre classes sociais, preconceito do gato contra o passarinho... E todo mundo concorda que preconceito é uma coisa errada, que não se deve julgar as pessoas por sua aparência ou poder aquisitivo. Todo mundo enche a boca para dizer "Eu não tenho preconceito!". Mas no final das contas, todo mundo é preconceituoso e hipócrita, se você quer saber. Até mesmo eu que estou aqui com esse blá blá blá infinito. Eu admito os meus, tenho preconceito contra quem gosta de forró, não curte vídeo games e acha que bichos são a pior praga que já pisou na Terra (eu particularmente acho que o único bicho que se inclui nessa descrição é o ser humano), devo ter vários outros que nem eu mesma consigo identificar. Mas ei, eu consigo conviver com essas pessoas e respeitar as opiniões delas, mesmo que eu não concorde. Jamais iria rejeitá-las numa entrevista de emprego, tratá-las mal ou excluí-las de alguma forma, a menos que elas se mostrassem pessoas de má índole realmente (o que eu acho bem possível vindo de uma pessoa que curte forró, não gosta de animais e nunca joga vídeo game, mas quem sou eu, afinal?). No fim das contas, eu acho que o ponto chave de tudo é esse: respeito. Então galerinha, vamos brincar do jogo da vida: eu cuido da minha e você cuida da sua. Grata.