Pseudo-Falta do que fazer

Aah, como é boa essa sensação de "falsa liberdade"... Todos os trabalhos que eu tenho para entregar são só para o fim do semestre e, como uma boa adepta do "pânico do último minuto", eu vou deixando o tempo passar até que se aproxime inevitável dia em que eu terei de fazer alguma coisa. Você deve estar pensando: você deveria fazer logo e se livrar disso de uma vez. Claro, eu respondo, claro que eu deveria. Mas quem disse que eu consigo? Uma coisa grande e pegajosa se apossa do meu ser e me impele à vagabundagem. Ela se chama preguiça. Sendo assim, ontem, ao invés de fazer meus trabalhos, fui ao cinema com uns amigos da faculdade. Nós assistimos Os Fantasmas de Scrooge em 3D. Hehe 3D é legal, principalmente quando minha mãe está do meu lado se assustando com as coisas que "vem na direção dela" (pena que ontem eu não tive essa diversão). O filme provavelmente é melhor na sua versão original, por isso não vou deixar o fato de a dublagem ser uma droga afetar minha opnião. Antes de assistir pensei: pff, ótimo, maaaaaais uma versão estranha para a história d'Os Fantasmas do Natal. Mas, sabe, o filme até que foi fiel ao livro. Não posso dizer com certeza o que está diferente porque li o livro na falecida quarta série, que Deus a tenha. Apesar de já bastante batida, é uma historinha interessante e que, afinal, ensina uma lição.
Falando em livros e em vagabundagem, há alguns dias atrás eu li Lugar Nenhum (Neverwhere), de Neil Gaiman. Eu só tenho uma palavra para descrever Neil Gaiman: foda. F-O-D-A. Sinto muito pelo palavreado chulo, mas não encontro outra forma de me expressar.

"Dizer que Lugar Nenhum é uma espécie de Alice no País das Maravilhas com uma virada punk não faz justiça ao primeiro romance de Neil Gaiman, mas serve para definir seu tom. Gaiman é mestre na arte de criar e povoar mundos. Em Lugar Nenhum, ele consegue se superar."
Poppy Z. Britte, autora de Plastic Jesus

Sinceramente, não faço idéia de quem seja Poppy Z. Britte, mas com certeza ela tem toda a razão. Com humor e inteligência, Gaiman funde fantasia e realidade ao criar todo um complicado universo localizado sob Londres, chamado Londres Subterrãnea, povoado por monges, condes, assassinos, nobres e dacaídos. O livro originalmente era um seriado de TV, que foi ao ar pela BBC, sendo posteriormente transformado em um romance em prosa por Gaiman. Além de já possuir uma versão em quadrinhos (imagem do início do post), Neverwhere vai ganhar também uma adaptação para o cinema, dirigida por David Slade. Uma das coisas que me chamou bastante a atenção nesse livro foram as riquíssimas referências feitas por Gaiman, indo desde o Marquês de Carabas (O Gato de Botas), com seus coturnos e essência felina até às sedutoras Lâmias.

Agora eu pergunto: vocês sabem o que são Lâmias? Haha, depois de toda essa enrolação, era aqui que eu queria chegar. Quem não gostar de mitologia pode parar por aqui.

As Lâmias são a origem dos nossos velhos conhecidos, os vampiros. Isso mesmo, Edward, você deve muito aos mitos gregos e medievais. Lâmia vem do grego laimos, que siginifica garganta. Imaginava-se que eram mulheres muito bonitas e fantásmagóricas, que devoravam crianças ou que, através de artifícios sexuais, atraíam jovens rapazes à seus leitos, para que então pudessem devorá-los ou sugar-lhes o sangue. Apesar de poderem assumir a forma humana, acreditava-se que após satisfazerem seus objetivos, elas voltavam a sua verdadeira forma de mulher-serpente ou de uma besta quadrúpede e feroz. O Termo Lâmia, na Alta Idade Média, era usado para referir-se à espíritos que voavam à noite, do folclore popular.
De acordo com um mito, Lâmia foi originalmente uma rainha da Líbia, filha de Poseidon e que manteve um caso com Zeus. Hera, movida pelo ciúme, transformou Lâmia em um monstro e matou seus filhos. Condenou-a, ainda, à nunca poder fechar seus olhos para que fosse eternamente aflingida pela imagem de seus filhos mortos. Zeus apiedou-se de Lâmia e deu-lhe o dom da profecia, além da capacidade de tirar e pôr os olhos, para que ela pudesse descansar. Ainda assim, Lâmia sentia inveja das outras mães e por essa razão devorava seus filhos.
Há, ainda, várias curiosidades e versões sobre as Lâmias e eu poderia ficar falando delas aqui por bastante tempo, mas para a sorte de vocês, eu não vou. Eu me interessei por elas porque não foi em Neverwhere a primeira vez que eu vi referências feitas às Lâmias. Na verdade, Gaiman também faz referência a elas em Stardust. Isso mesmo, a bruxa Lilim. Lâmia também aparece em Fome de Viver ou The Hunger. Apesar de não ser citado no filme, e sim no livro (eu só vi o filme, mas me contaram), a personagem principal é na verdade Lâmia. O filme é legal, se você não se incomodar com algumas ceninhas trash. Por fim, os dois quadros aqui mostrados apresentam duas Lâmias. Eles são de John William Waterhouse, um pintor pré-rafaelita, que gostava muito do tema "mitologia". Ambos os quadros são baseados no poema de John Keats:



She was a gordian shape of dazzling hue,
Vermilion-spotted, golden, green, and blue;

Striped like a zebra, freckled like a pard,

Eyed like a peacock, and all crimson barr'd;

And full of silver moons, that, as she breathed,

Dissolv'd, or brighter shone, or interwreathed

Their lustres with the gloomier tapestries--

So rainbow-sided, touch'd with miseries,

She seem'd, at once, some penanced lady elf,

Some demon's mistress, or the demon's self.


4 Responses
  1. Zé Frazão Says:

    É... blog legal... textos legais...
    Sobre esse último, venho a discordar do lance da dublagem dos Fantasmas de Scrooge ser uma porcaria, mas já vi que não adianta discutir isso com vocês. O papo de Lâmia me lembrou da explicação dada por Eugênio, que foi um pouco disso aí que você disse. Lâmia também era o nome do demônio que infernizava a vida da protagonista do filme de terror tosco "Arrasta-me para o Inferno" que eu tive o "prazer" de ver esse ano.
    No mais, é isso aí. Por experiência própria, não deixe o blog cair, mantenha as atualizações e bola pra frente!
    =D


  2. Cara, como você pode ter gostado daquela dublagem? PUTZ
    E é, foi justamente porque ele comentou que existia um monstro mitologico chamado Lâmia que eu fui atrás de pesquisar, e acabei notando que ela aparecia em várias coisas que eu já tinha visto/lido.


  3. Sei bem como é essa "pseudo-falta do que fazer"m tenho um trabalho pra segunda e adivinha quando resolvemos fazer? SEGUNDA \o/
    Faculdade é isso mesmo, já me acostumei.

    Não posso falar do Gaiman porque nunca li nada dele, mas to começando a me animar pra ler. No mais, muito bem escrito =)


  4. Flofa Says:

    Ha, acho que essa coisa da pseudo-falta do que fazer é uma experiência que qualquer universitário normal vivencia... u_u. Eu mesma também tenho um monte de trabalhos pra fazer, e o que eu fiz hoje? Porra nenhuma, ou melhor, compras ;D.

    Interessante essa história das Lâmias *-*. Já sabe né? Você vai me emprestar esse livro de Neil Gaiman ;D. Engraçado é que, em alguns momentos, achei que a lenda delas se parecia com a das Banshees (isso mesmo, por isso "Siouxsie & the Banshees), em outros, com a lenda das Moiras. Não conheço nenhuma delas a fundo. Conheci as Lâmias por sua causa, as Banshees por causa de Carol e as Moiras por causa de Jackson. Talvez sejam só nomes diferentes para a mesma coisa, ou versões diferentes da mesma lenda, vai saber...Depois vou pesquisar sobre isso.

    Adorei o post de hoje! Conteúdo e humor num mesmo texto, é issaê ;D

    Beeijos ;***